Muitas serão as abordagens sobre o que se desenha para o processo eleitoral que, não por vontade ou escolha, já foi dada a largada. Analistas, comentaristas, dirigentes partidários… e até candidatos tomam parte nas grandes dicotomias eleitorais (afinal, em tese, o que torna a vida mais fácil do que estabelecer grandes dicotomias sobre as quais dividem-se as opiniões sobre determinado tema?): a eleição será nacionalizada ou terá pauta local…
O Três Amores
Para não incorrer em ser mais uma variação do mesmo tema, recorro a uma anedota sobre uma reunião do antigo partido comunista da URSS:
O clube de uma cidade do interior anunciou uma palestra de um alto dirigente do partido sobre o tema “O Povo e o Partido estão unidos”. Não apareceu ninguém. Uma semana mais tarde foi anunciada a conferência “3 tipos de Amor”. O salão superlotou. “— Existem três tipos de amor”, começou o camarada secretário-geral. “— O primeiro tipo é o amor patológico. Isto é ruim, e sobre este tema nem vale a pena falar. O segundo tipo é o amor normal. Este, todos conhecem e, portanto, também não vamos nos alongar neste assunto. Resta ainda o terceiro — o mais elevado tipo de amor — o amor do povo pelo partido. E é sobre isto que vamos discorrer mais detalhadamente”.
Assim como o jurista Lênio Luiz Streck, eu poderia falar que temos até mais de três tipos de amor, mas vou me concentrar naquele que é mais elevado dos elevados tipos de amor que toma de assalto nossos corações: a eleição em Contagem deste ano e como armar a nossa “imaginação transformadora” para manter o rumo e aprofundar o projeto político liderado pela Prefeita Marília Campos.
Breve caracterização
O primeiro ponto possuiu um caráter mais universal: diante da polarização que marcou o Brasil nos últimos anos, nas eleições que se avizinham qual será o fator determinante? A geral que prevaleceu por um largo período é que as eleições municipais, afora nas capitais e, mais precisamente em São Paulo – onde as disputas nacionais costuma ser reproduzidas – a pauta das eleições era dominada por questões locais. Não vou desenvolver, mas, desde 2013, a dinâmica da política no Brasil mudou significativamente. Tudo o que era sólido desmanchou-se no ar, como disse o velho Marx.
Uma observação superficial sobre as três últimas eleições municipais, arrisco-me a dizer que Contagem já se arriscou no desconhecido, no “novo”. Tanto a eleição do ex-prefeito Carlin Moura quanto a de Alex de Freitas, em graus e tons diferentes, traziam algo da negação, do “pisar dos pés descalços sobre o desconhecido”. Essa chave virou em 2020. Não foi apenas o retorno a então ex-prefeita Marília Campos, mas todos lembramos o protagonismo que teve o ex-prefeita Ademir Lucas na candidatura adversária. Por essa razão, pelo quadro político em desenvolvimento no Brasil (as pesquisas apontam crescimento na aprovação do Presidente Lula), e, principalmente, pela presença da Prefeita Marília Campos, a avaliação da sua liderança e da gestão, é pouco provável a nacionalização ou ideologização da disputa.
No entanto, em política é sempre necessário considerar a possibilidade do inesperado, que o filósofo Louis Althusser chama de contingência, o aleatório, e que o arguto presidente do PSD, Gilberto Kassab, chama de “o fato novo”. O fato novo é possível de acontecer, mas impossível de calcular suas probabilidades. Nesse sentido, reafirmo e endosso os (as) que assim pensam: a pauta das eleições em Contagem terá como dominante os problemas locais, específicos: saúde, educação, transporte público. Não está na ordem do dia em Contagem a “pega” por narrativas polarizadoras. A experiência mostra que todas as tentativas nesse sentido no último período não deram certo.
Nas condições atuais, essa é uma breve caracterização possível, do cenário político. É necessário atualizá-lo permanentemente, considerando os acontecimentos políticos, os atores políticos que se apresentam na disputa e a sua capacidade de mobilizar possíveis insatisfações. Arrisco-me a dizer que o governo da Prefeita Marília conta muito pouco para qualquer mudança de cenário, pois sua avaliação tende a não ser mais pelo que será, mas pelo que foi, tem sido, pela pactuação feita com a cidade, e principalmente pela história de Marília com a cidade e com as pessoas.
A oposição não pode ser outra
E a oposição à Prefeita Marília Campos? É importante ter clareza, que uma força política qualquer força política (partido, liderança…) nunca é o que quer ser. É sempre o possível em uma conjuntura dada. Nesse sentido, a oposição à Prefeita Marília Campos que até agora se apresenta é como é porque simplesmente não pode ser diferente. Ela é o que o espaço político permite.
A oposição não pode ser, por exemplo, propositiva porque Marília lidera e coordena um projeto político que se materializa em programas e ações arrojadas que buscam enfrentar os problemas de Contagem de forma estrutural e que, pela sua experiência política e capacidade de gestão, mobiliza, para formular e reformular propostas, os melhores talentos de Contagem, de Minas e do Brasil.
A oposição não pode ser ousada porque a liderança que Marília exerce na cidade, em todos as regiões, em todos os estratos sociais, está amparada, sobretudo, na ousadia consequente e na coragem que marcam a sua trajetória política. Marília é a síntese e ao mesmo tempo enunciadora da ousadia possível da Contagem que somos e da que queremos e que podemos ser.
A oposição não pode ser popular porque não se escolhe, não se decide ser popular. Ser popular é um encontro entre anseios, propósitos, compromissos e práticas cotidianas estabilizadas no imaginário coletivo. E Marília representa em Contagem esse olho no olho da sua gente e na capacidade desta de se reconhecer nela, parafraseando Cândido Mendes.
A oposição não pode ser criativa porque Contagem, desde que Marília assumiu o terceiro mandato, pela cultura, pelo esporte, pela educação, pela ocupação dos espaços públicos tem se tornado território da criatividade, da alegria e da esperança.
A oposição sequer pode ser crítica porque a pessoa mais crítica do seu governo é a própria Prefeita Marília. E ela o faz de um jeito diferente, ouvindo as pessoas de forma organizada ou espontaneamente, em reuniões, caminhadas, inaugurações. Muitas vezes quando Marília inaugura uma obra, no seu discurso ela apesenta as suas reivindicações, que são apontamentos para melhorias e\ou correções.
A estima dos graves e o amor dos frívolos, as duas que seguem sendo “as colunas máximas da opinião”, asseguro: Marília ocupa muito espaço político. De modo que o que sobra à oposição é ser o que é e fazer o que faz: vive de teorias conspiratórias, tragédias e desastres naturais, sabotagem ao SUS, invasão de espaços públicos, exposição do sofrimento das pessoas nas redes sociais.
Tentando juntar algumas pontas
Falei do cenário, do histórico das últimas eleições em Contagem – que aponta para uma eleição que não será nacionalizada –, do espaço político que ocupa a Prefeita Marília Campos e o seu governo e de uma breve caracterização da oposição que se apresenta e do espaço que ela pode ocupar. Uma avaliação superficial desses fatores aponta para uma possível limitação de espaço para construir uma polarização em torno das questões da cidade e da gestão Marília. Isso posto, é preciso observar outros fenômenos em desenvolvimento ou que possam surgir.
Conclusão parcial: o que fazer?
Do ponto de vista de quem considera importante a continuidade o projeto político liderado pela Prefeita Marília Campos existem tarefas de governo. E essas são definidas pela Prefeita Marília Campos. E existem as tarefas da militância política e social, que é definida pelos partidos, pelas organizações da sociedade civil.
É o que pretendo desenvolver na próxima contribuição para o debate.
Fagner Sena é dirigente do PCdoB de Contagem, assessor na Secretaria de Governo e Participação Popular da Prefeitura de Contagem, bacharel e licenciado em letras.